QUARESMA E CAMPANHA DA FRATERNIDADE

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QUARESMA E CAMPANHA DA FRATERNIDADE

A Igreja propõe dentro do Ano Litúrgico, um tempo com um convite propicio a conversão. É o tempo da Quaresma. O fundamento deste tempo é o convite à experiência do encontro com Deus, buscando uma mudança radical de vida e de atitudes. Convida a atitudes de arrependimento, misericórdia, reconciliação e jejum, necessários para a conversão. O período Quaresmal encaminha a pessoa para uma transformação humana e espiritual em Deus, culminando todo o seu ser na plenitude da festa da Páscoa, a Ressurreição do Senhor.

Auxiliando neste processo, desde 1964 a Igreja do Brasil propõe a Campanha da Fraternidade, com uma temática, que faz refletir sobre a realidade social em que vivemos. Para este ano a temática proposta traz o tema “Fraternidade e vida: dom e compromisso” e o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34).

O desejo da Campanha da Fraternidade é despertar em todos atitudes de solidariedade, cuidado e respeito como a vida e a pessoa humana. Retoma o tema da vida, chama a atenção para a cultura de morte que se implanta entre nós. O tema proposto, inspirado na parábola do Bom Samaritano, é o convite para sermos mais compassivos e solidários. A parábola provém de uma pergunta feita por um Rabino a Jesus: “Quem é o meu próximo?”. Jesus responde contando a história de um judeu que, durante uma viagem entre Jerusalém e Jericó, foi assaltado, espancado e abandonado, nu a beira do caminho. Um sacerdote, que passava por ali, viu o homem caído mas passou adiante. Pouco depois, um levita, fez o mesmo. No entanto, um samaritano, “viu sentiu compaixão e cuidou dele.” A atitude do Samaritano, torna-se a chave para entender até onde vai o amor ao próximo. A indiferença é uma forma pecaminosa de pacto com a morte e somente poderá ser vencido por atitudes de compaixão.

“O rompimento da indiferença torna o samaritano mais humano. A compaixão expressa zelo aos moldes de Deus: aproximar-se e fazer-se útil ao outro. Servi-lo! Ver, sentir compaixão e cuidar apresentam-se como um autêntico programa quaresmal: 1) escuta da Palavra que converte o coração; 2) verdadeira atenção pelos outros; 3) romper com a indiferença frente ao sofrimento; 4) disponibilidade para o serviço. Torna-se assim, visível a corresponsabilidade da vida humana, pois somos irmãos e responsáveis uns pelos outros. Assim se define a vida”. (Texto Base 15).

Um modelo para todos nós, na qual nos recorda a imagem do cartaz da Campanha da Fraternidade este ano, a samaritana na terra onde viveu é Santa Dulce dos Pobres. Mesmo com precariedades cuidou das famílias de operários e desempregados, construiu um consultório para aqueles que passavam por grandes enfermidades e não tinham ninguém para os socorrer: “viu, sentiu compaixão e cuidou dele.” Dedicava sua vida à sua missão, e mesmo com estado de saúde precário, não conseguia ficar longe dos pobres e diante da pergunta o que fazer para mudar o mundo? Respondia: AMAR.

O cenário que agride a vida é vasto. Desigualdades; o aborto; eutanásia, suicídios, homicídios, feminicidios, eugenia, trafico de drogas e de órgãos, desemprego e a ecologia. O Brasil é considerado o pais mais ansioso e estressado da América latina, a automutilação é um fenômeno que tem crescido entre os jovens. Vitimas em acidentes de trabalho e de trânsito. Enfim uma série de ameaças a vida, batendo em nossa porta, por intermédio dos meios de comunicação e das redes sociais, confundindo cristãos, iludindo famílias, atraindo jovens para uma mentalidade permissiva.

Por isso o objetivo da CF é: “Conscientizar, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como dom e compromisso, que se traduz em relações de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa casa comum.”

O PORQUÊ DESTE TEMA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE.

Se olharmos em tempos passados a CF já elencou a discussão sobre a temática da vida. Em 1974, o tema era: “Onde está o teu irmão?”; em 1984: “Para que todos tenham vida”; e em 2008: “Escolhe pois a vida”. Esta constatação demonstra que precisamos refletir e assumir a defesa e a promoção da vida em todas as suas instâncias, desde a fecundação até a morte natural, passando por todas as situações. A fragilidade da vida é o motivo deste tema ter novamente recebido destaque.

A importância de refletir provém diante dos números que nos são apresentados, e do clima de indiferença que perpassa em muitos corações, não sentindo mais compaixão ao semelhante. Os números apontam a gravidade, mas uma mentalidade de descompromisso deixando anestesiado a pessoa diante do sofrimento do outro. Esta Campanha interpela a olhar o outro (a), como irmão (a). Isto nos remete a olhar a realidade com o olhar do discípulo missionário (DAp 19), que sabe conectar Palavra e existência, fé e vida, oração e ação.

O texto base da CF, chama a atenção em sua primeira parte, para dados que confirmam importância da temática. Vejamos: Sobre as crianças e adolescentes; 22,6% das crianças e adolescentes de 0 a 14 anos, vivem em situação de extrema pobreza, 9,4 milhões de menores com renda familiar per capita mensal de ¼ de salário mínimo; 16,4% das adolescentes são mães  antes dos 19 anos; 11,7 mil crianças e adolescentes foram assassinadas (ABRINQ, 2017). Desigualdade social: Em 2017 o Brasil era o 9º país mais desigual do Planeta em distribuição de renda. Foi anunciado recentemente que a taxação em 1% das 36 pessoas mais ricas do mundo acabariam com a fome no mundo (Fonte Oxfam). Desigualdade econômica: os 50% mais pobres da população brasileira sofreram uma retração de 3,5% nos seus rendimentos do trabalho. Os 10% mais ricos tiveram crescimento de quase 6% em seus rendimentos de trabalho (IBGE, 2018). Desemprego: são 13,4 milhões no último trimestre de 2019, 1,2 milhões de desempregados a mais do que o primeiro trimestre (IBGE, 2019). Doenças emocionais: O Brasil é considerado o país mais ansioso e estressado da América Latina. Nos últimos 10 anos, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4%.  Isso corresponde a 322 milhões de indivíduos no mundo. No Brasil, 5,8% dos habitantes sofrem com o problema (12.180.000). Os brasileiros com ansiedade são 9,3% da população (19.530.000). (Estas patologias aumentam em situação de pobreza, desemprego, sexualidade desregrada, ruptura de relacionamentos, doenças, álcool, drogas). Suicídio: Em 2016, no Brasil, houve 11.433 mortes por suicídio, 31 casos por dia, sendo por enforcamento, intoxicação, arma de fogo. Jovens de 15 a 29 anos são as maiores vítimas, tendo o suicídio como quarta causa de morte nesta faixa etária. Acidentes de trânsito: no primeiro semestre de 2018, provocaram a morte de 19.398 pessoas e 20.000 casos de invalidez. Conflito no campo: em 2018, os conflitos chegaram a uma área de 39,4 milhões de hectares. 4,6% do território nacional. Povos Indígenas: Entre os anos de 2003 e 2018, ocorreram mais de 1.200 assassinatos de indígenas. Feminicídio: No Brasil, em 2017, foram assassinadas 1.133 mulheres. Sem elencarmos os crimes cometidos contra a mãe natureza, apenas mencionamos o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, onde houve mortes humanas e ambientais e ate então impunes e caindo no esquecimento.

Diante desta realidade, a CF se propõe: a apresentar o sentido da vida proposto por Jesus agindo com compaixão, ternura e o cuidado. Fortalecer a cultura do encontro e da revolução do cuidado promovendo e defendendo a vida desde a fecundação ao seu fim natural. Despertar as famílias para a beleza do amor. Preparar os cristãos e as comunidades para anunciar o Reino de Deus. Criar espaços para todos perceberem a vida como dom e compromisso. Despertar os jovens para a beleza da vida e para cuidar de outros jovens. Valorizar, divulgar e fortalecer iniciativas em favor da vida. Conscientizar para a vivência da ecologia integral.

O que vamos fazer? Fica a resposta em nossas mãos!

 Fonte: Escrita por Padre Geraldo Macagnan

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