PSICANÁLISE NA ESCOLA:
TRABALHO DO COLÉGIO VICENTINO SANTA CECÍLIA É UM DOS DESTAQUES DO SALÃO UFRGS JOVEM 2016.
por Prof. Me. Vinicius Rodrigues
“Valorizar a autonomia do aluno”: um chavão escolar que, naturalmente, envolve um objetivo nobre. Muitos educadores e instituições de ensino esforçam-se para alcançar tal propósito, entretanto, eventualmente, assustam-se com a possível liberdade proporcionada. Ser autônomo, porém, não tem a ver com liberdade desmedida e inconsequência: tem a ver com consciência, iniciativa e responsabilidade, características que se constroem a partir do conhecimento, pois é o conhecimento que, enfim, liberta o indivíduo.
Uma das formas de consolidar essa premissa no âmbito escolar é dar liberdade para que o aluno seja protagonista no processo de aquisição do conhecimento, não sendo, portanto, sujeito passivo que é submetido à matéria escolar. Várias iniciativas e projetos têm aberto cada vez mais espaço para isso, como é o caso da Mostra Cultural e Científica do Colégio Vicentino Santa Cecília. Nesse espaço, alunos do Ensino Médio e dos anos finais do Ensino Fundamental propõem seus temas de pesquisa de forma livre, partindo, primeiramente, de seus desejos mais espontâneos, sendo convidados, num segundo momento, a pensar de que forma o tema pode ser explorado a partir de algum método científico. A metodologia é conhecida, mas os procedimentos, que garantem o protagonismo do aluno é que fazem a diferença: estabelecidas as hipóteses iniciais que guiarão o trabalho a partir do momento em que se seleciona o tema, parte-se para a etapa da pesquisa em si, que terá um professor-orientador e a necessidade de, em algum momento, considerar a pesquisa de campo e a coleta de dados como elementos inseridos dentro do trabalho. O mais importante nesse processo, porém, é considerar que os assuntos trabalhados formalmente nos componentes curriculares não são, necessariamente, o ponto de partida: temas diversos e especificidades como depressão, psicanálise, ciência no esporte, plantas medicinais, serial killers, entre tantos outros, aparecem com naturalidade, e cabe aos alunos compreenderem de que forma o professor-orientador pode ajudá-los a desenvolver o estudo; da mesma forma, mesmo quando orientados previamente a partir de um grande tema gerador, como as Olimpíadas, os estudantes podem se sentir motivados a buscar temas incomuns – como, por exemplo, o terrorismo e sua relação com a história dos Jogos Olímpicos.
Dentro desse contexto, o Colégio Vicentino Santa Cecília, após mais uma Mostra Cultural, selecionou 4 grupos que foram convidados a apresentarem seus trabalhos no Salão UFRGS Jovem 2016. Uma vez aceitos os trabalhos para o Salão, os estudantes cumpriram com maestria sua tarefa, mostrando sua pesquisa para a comunidade acadêmica e sendo avaliados por professores da instituição. E como se não bastasse apenas isso, dentre esses quatro, um dos trabalhos foi agraciado como destaque de sua sessão: o trabalho intitulado Terapia Ocupacional na Saúde Mental, realizado pelos alunos Eric Lipert Kalisz, Eduarda de Oliveira Ballejo Canto, Jovi Grassi Guterres, Júlia Machado Leal Guimarães, Laura Gabriele de Oliveira e Leonardo Chiminazzo Ferreira, do 3º ano do Ensino Médio – orientados pelo Professor Vinicius Rodrigues, de Literatura.
O trabalho foi realizado com o objetivo de compreender os métodos de aplicação da terapia ocupacional, partindo da descoberta do trabalho da psiquiatra Nise da Silveira e da curiosidade acerca de tratamentos psiquiátricos mais humanos e efetivos, como o uso da arte pictórica como tratamento para esquizofrenia a partir da psicologia analítica. Um trabalho de nível excelente brotou daí: para um melhor entendimento do assunto, uma preocupação foi, então, definir o que seria a terapia ocupacional em sua essência e como ela se formalizou e chegou ao Brasil, desde suas origens remotas até o trabalho de Nise da Silveira, uma das mais importantes médicas psiquiátricas do país, e a relação entre suas ideias e as de seu mentor, Carl Jung. Definido o objeto de trabalho, partiu-se, então, para o estudo de caso do Hospital Psiquiátrico São Pedro, de Porto Alegre, RS, quando foi possível entender melhor o trabalho executado no local, que está bastante ligado à proposta de Nise. Junto a isso, o grupo propôs uma pesquisa de campo, tendo como objetivo visualizar o nível de conhecimento acerca do tema terapia ocupacional na área da saúde mental; na pesquisa, pode-se obter dados ligados ao nível de familiaridade do público em geral com o assunto, o que é pensado por esse público como forma de tratamento de pessoas com distúrbios psiquiátricos e questões acerca da humanização dos tratamentos na área da saúde mental. Informações importantes foram obtidas a partir de entrevistas com profissionais da área e concluiu-se, enfim, que o isolamento de pacientes psiquiátricos interfere em sua reinserção na sociedade, sendo assim, seria possível (re)integrá-los através dos métodos abordados na pesquisa, como a utilização da arte. Após a realização do trabalho, também foi possível obter um maior entendimento dos estudantes acerca da atual situação do tratamento com a ajuda da terapia ocupacional na área de saúde mental realizado na cidade de Porto Alegre, mais especificadamente na área da saúde pública. Na capital gaúcha, os métodos de Nise da Silveira já são utilizados e vêm comprovando o quão benéficos podem ser para os pacientes. Logo, o grupo pode concluir que a terapia ocupacional é, sim, um dos mecanismos mais eficientes na ajuda aos pacientes psiquiátricos.