Família: escolha de amor - Jorge Trevisol

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           Na semana da família, o Colégio Vicentino Santa Cecília proporcionou uma palestra como Psicólogo e Teólogo Jorge Trevisol para os pais do Ensino Fundamental e Médio. Foi uma noite de reflexão, questionamentos e troca de experiências entre o palestrante e as famílias que participaram com grande interesse e atenção. Algumas palavras nos fazem pensar sobre a linda missão de ter e ser uma família.

            Jorge Trevisol abriu a noite com a linda canção:

      “Quantos caminhos trilhados e outros deixados pra chegar aqui, quantas histórias vividas, memórias que a vida guardou só pra si. Sábias e poucas lembranças que a mente não cansa de recordar...são flores colhidas na estrada, são marcas sagradas, a alma é quem trás...”

            Ser pai e ser mãe é uma missão muito bonita, porém exige ser e ter muito amor com os filhos. O filho é o que o pai pensa dele. O filho é o reflexo do pai e a filha é o jeito da mãe.

           A vida é gerada no seio da família, espaço sagrado de cada ser humano. É importante pensar nos laços de amor que se refazem todos os dias na convivência familiar. Cada ser é único e tem valor fundamental. A mãe, o pai, o filho, a filha...cada pessoa em si possui valores, sentimentos, inquietudes, desejos, sonhos, feridas, emoções e amores que se compõe na melodia da vida. É essencial administrar com sabedoria, respeito a dor e a alegria do outro, porém com um jeito muito amoroso de ser. A imagem do homem na vida de casal se compara ao da razão (pés no chão) e a mulher o da emoção (sonhos que voam). A imagem da pipa retrata estes sentimentos quando se vê a mulher no sonho de ir além, voar, sonhar e sonhar... Já o homem no uso do comando para aterrissar bem firme na realidade. A união do homem e da mulher é o equilíbrio de uma vida de casal que se torna reflexo no amor com os filhos. Todos os dias a mãe deveria dizer ao seu marido “VOCÊ É UM HOMEM BOM” e o pai deveria dizer à sua esposa “VOCÊ É QUERIDA E AMOROSA”.  A vida do casal vivida com amor mostram que ser pai e ser mãe é uma nobre missão. É importante saber integrar o humano e o espiritual na vida pessoal e familiar.

            Jorge Trevisol em seu livro “Amor, Mística e Angústia” recorda:

           “O espiritual, que é o que vem primeiro e é a primeira forma de existir do ser humano, desencadeia a existência da pessoa. Em seguida vem o ambiente afetivo, que são os pais que acolhem a vida na sua maravilha e a geram. Por sua vez, o físico dá forma ao que fora ideia espiritual e acolhida no amor: o nascimento de uma vida nova. No itinerário de amadurecimento e crescimento humano ou de tomada de consciência, o processo parece inverter-se: primeiro é o físico que vai se fazendo, e de fato a criança nos primeiros anos de vida tem mais necessidades físicas do que quaisquer outras; aos poucos vai criando um self, o próprio eu afetivo, sua identidade; a consciência espiritual é assumida somente mais tarde, embora esteja sempre presente desde o começo, mas os temas do  sentido da vida, do destino e do objeto de transcendência são questões mais tardias. Ninguém pode dizer que conhece a si mesmo se não conheceu a Deus, como também ninguém conheceu a Deus se ainda não conhece a si mesmo. Pois normalmente a ideia de transcendência está intimamente ligada a ideia que o indivíduo possui de si mesmo e facilmente comprometida com o que ainda não conhece de si. Isto é, quando a pessoa não se conhece suficientemente, acaba por “filtrar” as imagens, os fatos e as experiências, também aquelas ligadas ao Transcendente, segundo seus conflitos internos não bem resolvido. Não basta, portanto, ter um “conhecimento” intelectual da verdade Transcendente. É preciso experimentá-la dentro de si mesmo, a partir da liberdade interior. É livre somente aquele que perdeu o medo de se perder diante do Mistério do Alto, podendo assim aventurar-se no encontro com Ele sem imaginar o que Este poderia lhe pedir. Porém, outro modo estreito de compreender o Mistério do Alto pode acontecer quando, por exemplo, nunca se exigiu nada de alguém, e nenhum limite lhe foi imposto ao longo da trajetória da vida. Em verdade, é bem mais fácil que a pessoa se aproxime de um conceito de Deus ternura e bondade, mas facilmente – a partir de uma ideia de Deus que “aceita tudo”, poderá guardar dentro de si, muito inconscientemente, que Deus “não está nem ai” com o que lhe acontece e com o que faz da vida; então, organiza o seu destino do jeito que melhor lhe convém, logicamente a seu favor. Não aprende a lidar com o preço que a vida tem, a qual, não poucas vezes, pede renúncias e escolhas em favor dos outros e o bem da humanidade.

            A pessoa amorosa é aquela que possui o verdadeiro conhecimento do Mistério do Alto, por tê-lo buscado através do amor e por permitir que Ele se manifestasse do jeito que quisesse. Quem ama deixa que Deus seja, porque Deus simplesmente é. Ele é aquela força que o ser humano mais deseja e precisa, é energia criadora, é inteligência sábia, é amor incondicional, intencionalidade reta, enfim, é uma fonte unificadora do interior humano, da comunidade humana e do universo cósmico. Mas, ao mesmo tempo, Ele é pessoa, é o humano pleno, é meta e destino de toda pessoa.

            Tudo o que há em Deus é possível que esteja também na pessoa humana, embora de modo parcial. Pois toda vez que alguém se aproxima com liberdade do Mistério, vai assumindo um jeito de ser a partir d’Ele. É banhado de luz, de energia, de vida, de espiritualidade, de individualidade e unicidade, de pessoalidade e divindade. Se Deus é, para que alguém seja, precisa beber do seu existir. Na verdade, somente é aquele que foi gerado pela sua força criadora e que continua deixando-se cuidar pela mesma força. Portanto, é preciso decidir aproximar-se d’Ele, deixar-se conduzir por Ele, a tal ponto de existir conscientemente partir d’Ele. Assim é o amor. Pois o amor exige escolha, disciplina, direção e responsabilidade.

           O ser humano não tem outra via de aproximação do Mistério da Transcendência senão a do caminho do mistério de si mesmo. Quando a pessoa conhece o mundo interior que possui, descobre uma grande fonte de riquezas, semelhante àquela do Mistério do Absoluto. Pois, no fundo do coração humano, habita a mesma luz, a mesma força que ele procura na divindade, pois o amor de Deus foi colocado em cada coração humano e derramado em abundância. Mas ele precisa ser descoberto, aceito e cultivado, pois, as vezes, ele é saudade, outras vezes é desejo. Mas ele está presente em forma de potencialidade, mais que tudo. Além do mais, essa luz e essa energia têm formas diferentes de se manifestarem, e se revelam através das principais dimensões inerentes a pessoa humana.

            Aprender a desejar o Mistério do Alto com toda a força...

           Não dá para simplesmente deixar a vida acontecer. É necessário fazer opções que criem disposições internas e conduzam para onde a vida deseja ir. O grande desejo da vida é o de voltar para casa, para aquele estado de intimidade aconchego com a origem, a plenitude e o eterno. Algumas estradas terminam logo ou conduzem para longe de casa. São todos aqueles caminhos escolhidos somente a partir de um dos polos da vida: ou a partir, simplesmente, do próprio eu, ou somente a partir de Deus, sem pensar também em si mesmo. As pessoas mais felizes e bem-sucedidas são aquelas que optaram e continuam fazendo opções enquanto caminham. Deixar de tomar decisões é decidir não mais caminhar.

           Pessoa sábia não é aquela que conhece tudo sobre tudo, mas aquela que vê tudo a partir do todo: daquele horizonte final e amplo. De certo modo, a sabedoria verdadeira é a arte de investir toda a mente no conhecimento da verdade absoluta e, a partir daí, refazer a memória de tudo o que foi vivido e cultivar uma constante “preocupação” em ligar o que acontece a cada dia com a verdade intuída. Em outras palavras, sábio é aquele que reúne todas as experiências em torno da verdade fundamental e absoluta que ele conheceu e pela qual decidiu viver.

            De fato, a vida precisa ser movida por uma grande paixão. Se o desejo não for uma paixão de verdade, todo o viver se torna voluntaríssimo ou racional. É o afeto com que vestimos o horizonte final que nos vai fazer gostar da vida. Sim, quando não temos um amor, a vida deixa de ter o seu colorido maior. Não basta querer o Absoluto, compreendê-lo e interpretar a vida a luz da sua presença. É preciso amá-lo. Amá-lo significa encontra-lo como um Outro que se relaciona também com afeto, carinho e ternura. É travar um diálogo entre presenças semelhantes: que sentem, desejam e se estimam reciprocamente. Por isso, há uma grande verdade a ser dita: todo horizonte que não for uma pessoa será sempre insuficiente, mesmo que seja “divino”. Assim como o amor humano anseia por um outro ser que seja também profundamente humano, o amor transcendente anseia também por um ser que seja pleno, espiritual, eterno, e, portanto, plenamente pessoa. Então, o transcendente se torna o elemento organizador de toda a vida da pessoa humana. E assim tudo vira relação de amor. Nada é extremamente forçado. Há uma disciplina que vai estabelecendo ordem a partir do amor. Era isso o que Santo Agostinho queria dizer quando afirmou: “Ama e faze o que queres”. De fato, só o amor tem a força de reordenar uma estrutura como é a da personalidade humana.”  

            Zelar pela família é o jeito amoroso de ser de cada ser humano!

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